Embora o tempo seja
de mais empatia, Sancha estava machucada. Sala escura, música clássica e ela
ferida. Pele e coração em ‘carne viva’, na solidão do seu apartamento. Ela
confiou e apanhou. Quem menos esperamos bate sem dó nem piedade. Ela caiu sem
cinto de segurança. Intenso amargor na boca. De novo, a vida exige que ela
respire fundo e pense: “por onde recomeçar?” Não adianta chorar: chorar marca o
rosto e não resolve nada. Ela confiou e perdeu. Perdeu para si mesma e seu
orgulho. Agora era hora das despedidas: quem ela foi se foi com requintes de
crueldade. Era um susto tentar clarear a visão e se ver diferente. Ela confiou
e agora estava nua de tudo. Escuro, música, mudança, humildade, aceitação,
coragem e um bom gole de vinho. Ser feliz é nossa capacidade de encontrar
brechas nos desvãos dos próprios suspiros e dos cantos menos reconhecidos. Será
isso amor-próprio? Sancha não sabe ainda, mas há sol quando qualquer noite nos
abate ou tonteia. Ou é isso ou é melhor morrer. Então mais um gole de vinho.
Prof.ª
Claudia Nunes (05.05.2021)
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