quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

SANCHA e sua tia Sue: 'mulher da vida'


E a terceira idade chegou. Olhando sua tia tentando tomar um banho, Sancha soube que a terceira idade chegou. Expressão que ela logo pensou: perda da autonomia. Que loucura! Logo sua tia? Aquela tia sempre tao ‘sacudida’ e animada? Sim! Para ela também a terceira idade chegou. Neste momento é importante estarmos todos juntos e criarmos redomas de empatia, porque não é fácil aceitar a dificuldade e a lentidão do corpo; ou mesmo perceber que nossa voz perdeu sentido e significado ao outro. Ao olhar a tia, Sancha observou a diminuição da capacidade física; a perda da agilidade e da mobilidade; certa degeneração da pele; mais curvatura da coluna; mais rugas no rosto e vários cabelos brancos. Era o tempo dizendo: cheguei! Envelhecer é acúmulo de experiência e construção de sabedoria; mas também há um desencadeamento de tipos de depressão, ansiedade, lesões e distúrbios que precisa de atenção direta. Tia Sue envelhecia... envelhecera... envelheceu... Tia Sue tinha dieta adequada, fazia exercícios moderados e ia ao médico rotineiramente... mas envelhecia, envelhecera, envelheceu. Tia Sue preparava Sancha para o futuro. Ela precisava pensar nisso. Velhice é momento da consciência da aproximação do fim da vida; de suspensão da atividade profissional (aposentadoria); da sensação de inutilidade; de grande solidão; do afastamento ou desaparecimento de amigos; de desconexão familiar, em alguns casos; de grande desmotivação; etc. Velhice coloca em cheque a qualidade e a produtividade. Sem reajustes emocionais ao longo da vida à certeza do fim traz desalento e apatia, algo que repercute no organismo em forma de doenças e dores. A chegada da velhice, sem preparo, engatilha o inusitado: a indiferença quanto a própria sobrevivência. Todo cuidado é pouco. Velhice com qualidade é velhice com atenção, amor e compreensão alheia. Não tem jeito, Tia Sue ainda não se dera conta, mas envelhecia, envelhecera e envelheceu; e, ainda assim, vivia sem incluir, em sua memória, as décadas que já carregava em sua certidão de nascimento. “Será isso bom ou mau?” – pensava Sancha. Nem uma coisa ou outra. Tia Sue viva a vida como um trunfo; ainda se apresentava produtiva; tinha saúde; e alimentava o sonho de viver para sempre. Ela envelhecera, envelhecia, envelheceu aos olhos dos outros; nunca aos olhos da própria realidade. Depois do banho, ela se arrumou, esperou e saiu. Num mundo cheio de preconceitos e estigmas, ela cumpria, semana a semana, uma agenda de compromissos entre bares, estudos e viagens, com amigos ou sozinha, sempre com sua melhor identidade: ‘mulher da vida’.

 

Prof.ª Claudia Nunes (26.05.2021)

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