E a terceira idade chegou. Olhando sua tia
tentando tomar um banho, Sancha soube que a terceira idade chegou. Expressão
que ela logo pensou: perda da autonomia. Que loucura! Logo sua tia? Aquela tia
sempre tao ‘sacudida’ e animada? Sim! Para ela também a terceira idade chegou.
Neste momento é importante estarmos todos juntos e criarmos redomas de empatia,
porque não é fácil aceitar a dificuldade e a lentidão do corpo; ou mesmo
perceber que nossa voz perdeu sentido e significado ao outro. Ao olhar a tia,
Sancha observou a diminuição da capacidade física; a perda da agilidade e da
mobilidade; certa degeneração da pele; mais curvatura da coluna; mais rugas no
rosto e vários cabelos brancos. Era o tempo dizendo: cheguei! Envelhecer é
acúmulo de experiência e construção de sabedoria; mas também há um
desencadeamento de tipos de depressão, ansiedade, lesões e distúrbios que
precisa de atenção direta. Tia Sue envelhecia... envelhecera... envelheceu...
Tia Sue tinha dieta adequada, fazia exercícios moderados e ia ao médico
rotineiramente... mas envelhecia, envelhecera, envelheceu. Tia Sue preparava
Sancha para o futuro. Ela precisava pensar nisso. Velhice é momento da consciência
da aproximação do fim da vida; de suspensão da atividade profissional
(aposentadoria); da sensação de inutilidade; de grande solidão; do afastamento
ou desaparecimento de amigos; de desconexão familiar, em alguns casos; de
grande desmotivação; etc. Velhice coloca em cheque a qualidade e a
produtividade. Sem reajustes emocionais ao longo da vida à certeza do fim traz
desalento e apatia, algo que repercute no organismo em forma de doenças e
dores. A chegada da velhice, sem preparo, engatilha o inusitado: a indiferença
quanto a própria sobrevivência. Todo cuidado é pouco. Velhice com qualidade é
velhice com atenção, amor e compreensão alheia. Não tem jeito, Tia Sue ainda
não se dera conta, mas envelhecia, envelhecera e envelheceu; e, ainda assim,
vivia sem incluir, em sua memória, as décadas que já carregava em sua certidão
de nascimento. “Será isso bom ou mau?” – pensava Sancha. Nem uma coisa ou
outra. Tia Sue viva a vida como um trunfo; ainda se apresentava produtiva;
tinha saúde; e alimentava o sonho de viver para sempre. Ela envelhecera,
envelhecia, envelheceu aos olhos dos outros; nunca aos olhos da própria realidade.
Depois do banho, ela se arrumou, esperou e saiu. Num mundo cheio de
preconceitos e estigmas, ela cumpria, semana a semana, uma agenda de
compromissos entre bares, estudos e viagens, com amigos ou sozinha, sempre com
sua melhor identidade: ‘mulher da vida’.
Prof.ª
Claudia Nunes (26.05.2021)
Nenhum comentário:
Postar um comentário