Engraçado a fala do perdão religioso.
Ontem, em uma festa, a afirmativa era ‘perdão vem de Deus e temos que aceitar’.
Eu não sei. Não concebo a ideia do perdão como algo humano. É importante saber
sublimar determinadas emoções e atitudes alheias para descansar, aliviar culpas
e ‘esquecer’ ofensas, traições ou dívidas; mas perdão? Ah isso é outro nível
cuja minha humanidade ainda é cega. Esquecer já é uma mentira, sendo assim.
Ninguém esquece nada. E eu não entendo o perdão. Se nós temos algumas
ferramentas mentais ou técnicas alternativas para nos aliviar do que nos
aconteceu, tudo bem; mas ninguém esquece nada. Em tudo que precisa de perdão,
algumas emoções são naturais: surpresa e raiva; surpresa e rancor; surpresa e
tristeza; surpresa e quaisquer emoções negativas. Em tudo o que nos acontece,
há decisões a serem tomadas: questão de manutenção da sanidade mental mesmo.
Duas escolhas são claras: ignorar e seguir a vida; aceitar, se resolver e
seguir a vida. Raiva, rancor e ressentimento só alteram a neuroquímica daquele
que sente: eles são tóxicos. Na conversa, Deus era a tônica. Mesmo diante da
situação mais torpe, era preciso acreditar que Deus tem suas intenções e
mistérios; e nós, sempre pobres humanos, precisamos viver essa crença sem
pestanejar. Como assim? Que intenção é essa? Como deixar alguém às cegas
diante, por exemplo, de uma perda repentina e/ou violenta? Por algum motivo, em
nossa evolução, nós nos tornamos humanos despreparados para ausência desse
tipo. Humanos são ‘ratos de laboratório’ então? São vítimas voluntárias? Depois
fiquei pensando nisso: perdão é mudar sentimentos, padrões mentais e
comportamentos ‘de sempre’. Mas aprendi também que humanos só o são com todos
os sentimentos integrados e, por isso, com capacidades reativas inimagináveis e
reais, em sua relação com o mundo e com outros humanos. Logo perdão torna-se
uma ferramenta de equilíbrio emocional tão forte quanto gritar/xingar numa
discussão. De novo, antes do reconhecimento de um erro, há a decisão de
amenizar nossas reações para, aí sim, reconhecer um erro e tentar supera-lo. É tentativa
e erro; tentativa e acerto; e por aí vai. Voltei para casa pensando nisso:
perdão é vida nos ensinando a procurar e achar a paz interior, sem amnésia.
Prof.ª
Claudia Nunes (14.06.2021)
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