Sabe o que é
inegociável? Sua vida. Sabe o que é insuportável? Seus medos. Sabe o que é
irresistível? Seu tempo. Sabe o que é desperdício? Sua insistência! Quanta
coisa diferente! Sancha não conseguia manter o equilíbrio. Era um esforço
acordar todos os dias, pensar no que fazer e fechar a noite sem ter feito nada.
“Nada? Como
assim?” – diria uma amiga. – “Você está viva!”
“É... pode ser...”
– pensava Sancha – “mas sabe o que estar viva hoje? Não sei... nunca soube”.
Será que valeu a
pena? Será que doei demais? Não há meios de ter respostas quando seu mundo só
tem perguntas cuja filosofia mais profunda não consegue responder. Pela
primeira vez desconfortável consigo mesma, Sancha quer seu mundo melhor, só que
havia fantasmas demais; bagagens demais; dores demais. Isso era mesmo
inegociável, insuportável e irresistível. E tudo isso gerava prazer e vício.
Era hora de trocar
de pele e viver outra dor: o descarte. Saúde é descarte: jogar fora quem se foi
e alimentar novos hábitos e prazeres. Ela gosta de si; gosta de si hoje; gosta
dos seus dias; e gosta de remonta-los como um lindo e novo quebra-cabeças. Ela
não era obrigada a nada, nem mesmo se deixar levar pelas coisas inegociáveis,
insuportáveis ou irresistíveis.
“É... minha amiga
tem razão: pelo menos estou viva”.
Prof.ª
Claudia Nunes (08.05.2021)
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