- Eu não sei você, mas quando aconteceu
comigo, eu fiquei com raiva e me vinguei. Eu não descansei enquanto não
consegui o que queria. Agora estou no lugar certo e atenta àqueles que se
aproximam para me derrubar. Eu não perdoo mesmo! – disse Liz, amiga de Sancha.
À noite, em seu quarto, Sancha ficou pensando nisso: quantas vezes escutou ‘não
perdoo mesmo’, em seu ambiente de trabalho e círculo social? Milhares! Olhando
a noite pouco estrelada, ela também reconhecia que não acreditava em perdão.
Tal e qual gratidão, perdão tornou-se uma palavra bem popular e vazia de
atitude. Elas são ditas a esmo e para agradar os ouvidos de outros ou por puro
interesse. Pelo que dizem, saber perdoar causa bem-estar, nos livra de maus
sentimentos e traz equilíbrio emocional e autoconhecimento. Sem perdoar, há
ressentimento: uma prisão emocional. Só que as vezes, há situações que fogem a
esse autocontrole todo. Somos humanos, lembram? Sancha aprendera que há dois ou
mais lados para tudo. Tudo dependeria da intenção. A religiosidade, às vezes, nos
acalma, mas nada acontece sem a intervenção do tempo. Isso! Humanos perdoam com
o tempo. É o tempo passando que dita o tempo e a hora do perdão. É o tempo o
grande libertador. É no tempo que alcançamos nossas memórias com mais calma e
flexibilizamos certas certezas sobre certas situações ou pessoas. É o tempo que
nos oferece a chance de nos descolarmos de uma situação ou de uma pessoa toxica
com amadurecimento real, sem culpa. Não pode haver pressão sobre isso. Em suas
leituras, Sancha encontrou as seguintes afirmativas: perdoar é se dar uma
chance; é uma oportunidade; é livramento; e não é esquecer. E novo problema:
perdoar, além do tempo, tem como parceira, a dor. De que nível de dor estamos
falando? Que nível de dor podemos suportar? Ou, que dor, com o tempo, nós
podemos aliviar para perdoar? A vida é um conjunto de memórias de todo tipo,
então perdoar depende das ferramentas que adquirimos no/com o tempo. Se nossa
amargura afeta nosso cotidiano, nós precisamos limpar a mente para continuar a
vida com estratégias emocionais de sobrevivência a tudo o que nos acontecer. Ou
não? Sancha estava surpresa com tudo o que pensava. Quais estratégias ou
técnicas ela teria num momento desse? – ela se perguntou. Bom ela só podia
pensar em respirar e se motivar a ignorar, nunca esquecer. Seus amigos eram
radicais, objetivos e tensos. Para eles, perdoar era para os fracos. Tão
enganados – pensava Sancha. Hoje perdoar é não trazer tumulto ou problema para
dentro de casa; é limitar o nível de concentração sobre os incômodos,
desconfortos ou mágoas; é decidir por um dia de cada vez, sendo o mais positivo
possível; é, toda noite, analisar tudo o que nos aconteceu com menos raiva ou
imaturidade; é experimentar os dias, sem medo, mas de maneira inteligente; é
experimentar o autoconhecimento e mais valorização; é, simplesmente, as vezes,
fingir demência para ter paz. Perdoar é tempo de despertar para / por si mesmo,
apesar do que lhe aconteceu. Sinistro...
Prof.ª
Claudia Nunes (14.06.2021)
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