Eu estava
pensando. Diante de uma situação limite, qualquer uma, o cérebro pode entrar em
colapso? Sem nem pestanejar, pensei em perdas e pandemia, e respondi: sim! Uma
situação limite pode ajudar o cérebro a embaralhar memórias. É a ascensão dos
medos, da insônia, da depressão e de angústias incompreensíveis. Andando pelos dias,
de lá para cá, dentro de casa, um insight: esse embaralhamento é o causador das
minhas preocupações com minha alimentação, meu sono, meus movimentos e minhas
formas de sentir o tempo. Não sou brilhante, nem equilibrada ou leve, mas
também fazer coisas irracionais ou sem certo controle não é a ‘minha onda’. Sou
mais linear do que espiralada, logo assimilo mais do que descarto. E isso
relaciona-se a quase tudo. Ou seja, o tempo (e a situação limite) trouxe ao meu
sistema nervoso, um funcionamento defeituoso. Será para sempre? Segundo Burnet
(2018), sem o devido cuidado, eu posso desenvolver um distúrbio neurológico. Os distúrbios neurológicos se devem a
problemas físicos ou desordens no sistema nervoso central, como quando um dano
ao hipocampo causa amnésia ou a degradação da substância negra provoca a doença
de Parkinson. São coisas horríveis, mas, em geral, têm causas físicas
identificáveis (embora quase sempre pouco possamos fazer contra elas). Em
que devo prestar atenção então? Primeiros problemas físicos, dores de cabeça
inesperadas, preguiça constante, dificuldade em vários movimentos, falta de
propósito, desequilíbrio emocional intenso, perda de memória, alteração da
linguagem, por exemplo. Mas, no que presta atenção mesmo? Em meu estilo de
vida, mesmo já com 50 e poucos anos. O cérebro funciona (estou viva), mas sua
constituição anatômica e fisiológica já tem pequenos desajustes e as vezes faz
coisas inúteis ou esquisitas. Distúrbio ou transtorno? Burnet (2018) recorre uma
analogia com um computador: um distúrbio
neurológico é um problema de hardware, enquanto o transtorno mental é um
problema de software. Nada é tão simples, mas entendi. Tomara que eu tenha
um distúrbio, e não um transtorno. Sei que não há dois cérebros iguais. Sei que
cada humano é singular porque, além de outras coisas, usa o cérebro de forma
diferente. Por isso, sei também, que funcionamento normal só nos livros de
biologia. Na vida, em família ou não, é ‘outros 500’. Na cozinha, respiro
melhor e tento decidir qual é o melhor caminho para recuperar minha vida,
depois da situação limite que me fez sentir/pensar em colapso interno. Respiro
e penso em meus hábitos estranhos,
idiossincrasias, tiques ou excentricidades (BURNET, 2018). São emoções
confusas e complexas. Nada parecido com meu eu anterior. Estou com padrões de
comportamento em mudança drástica. Respiro em desconforto... apenas
desconforto. Não sou de sofrimentos. Mas entendo, hoje, incapacidades ou
inabilidades, como possíveis. É... Respiro e penso em saúde mental. Depois da
situação limite, a saúde mental precisa ser revisitada e reconfigurada,
começando pelas emoções sempre. Seu enfrentamento é assustador, mas não fazê-lo
me tornará um organismo debilitante, frágil, vulnerável. Não há cura. O
enfrentamento é adaptação. Na ‘moda’ neurocientífica, como a situação limite já
aconteceu, depois de cair e levantar, e de um bom café, adaptação é a palavra
de ordem, para o bem ou nem tanto. Respirando...
Prof.ª
Claudia Nunes (01.06.2021)
Referência:
BURNET, Dean. O Cérebro que não sabia de nada: o que a neurociência explica sobre
o misterioso, inquieto e completamente falível cérebro humano. São Paulo:
Planeta do Brasil, 2018.
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