quarta-feira, 25 de janeiro de 2023

Situação limite e a desconfiguração de um cérebro


Eu estava pensando. Diante de uma situação limite, qualquer uma, o cérebro pode entrar em colapso? Sem nem pestanejar, pensei em perdas e pandemia, e respondi: sim! Uma situação limite pode ajudar o cérebro a embaralhar memórias. É a ascensão dos medos, da insônia, da depressão e de angústias incompreensíveis. Andando pelos dias, de lá para cá, dentro de casa, um insight: esse embaralhamento é o causador das minhas preocupações com minha alimentação, meu sono, meus movimentos e minhas formas de sentir o tempo. Não sou brilhante, nem equilibrada ou leve, mas também fazer coisas irracionais ou sem certo controle não é a ‘minha onda’. Sou mais linear do que espiralada, logo assimilo mais do que descarto. E isso relaciona-se a quase tudo. Ou seja, o tempo (e a situação limite) trouxe ao meu sistema nervoso, um funcionamento defeituoso. Será para sempre? Segundo Burnet (2018), sem o devido cuidado, eu posso desenvolver um distúrbio neurológico. Os distúrbios neurológicos se devem a problemas físicos ou desordens no sistema nervoso central, como quando um dano ao hipocampo causa amnésia ou a degradação da substância negra provoca a doença de Parkinson. São coisas horríveis, mas, em geral, têm causas físicas identificáveis (embora quase sempre pouco possamos fazer contra elas). Em que devo prestar atenção então? Primeiros problemas físicos, dores de cabeça inesperadas, preguiça constante, dificuldade em vários movimentos, falta de propósito, desequilíbrio emocional intenso, perda de memória, alteração da linguagem, por exemplo. Mas, no que presta atenção mesmo? Em meu estilo de vida, mesmo já com 50 e poucos anos. O cérebro funciona (estou viva), mas sua constituição anatômica e fisiológica já tem pequenos desajustes e as vezes faz coisas inúteis ou esquisitas. Distúrbio ou transtorno? Burnet (2018) recorre uma analogia com um computador: um distúrbio neurológico é um problema de hardware, enquanto o transtorno mental é um problema de software. Nada é tão simples, mas entendi. Tomara que eu tenha um distúrbio, e não um transtorno. Sei que não há dois cérebros iguais. Sei que cada humano é singular porque, além de outras coisas, usa o cérebro de forma diferente. Por isso, sei também, que funcionamento normal só nos livros de biologia. Na vida, em família ou não, é ‘outros 500’. Na cozinha, respiro melhor e tento decidir qual é o melhor caminho para recuperar minha vida, depois da situação limite que me fez sentir/pensar em colapso interno. Respiro e penso em meus hábitos estranhos, idiossincrasias, tiques ou excentricidades (BURNET, 2018). São emoções confusas e complexas. Nada parecido com meu eu anterior. Estou com padrões de comportamento em mudança drástica. Respiro em desconforto... apenas desconforto. Não sou de sofrimentos. Mas entendo, hoje, incapacidades ou inabilidades, como possíveis. É... Respiro e penso em saúde mental. Depois da situação limite, a saúde mental precisa ser revisitada e reconfigurada, começando pelas emoções sempre. Seu enfrentamento é assustador, mas não fazê-lo me tornará um organismo debilitante, frágil, vulnerável. Não há cura. O enfrentamento é adaptação. Na ‘moda’ neurocientífica, como a situação limite já aconteceu, depois de cair e levantar, e de um bom café, adaptação é a palavra de ordem, para o bem ou nem tanto. Respirando...

 

Prof.ª Claudia Nunes (01.06.2021)

 

Referência:

BURNET, Dean. O Cérebro que não sabia de nada: o que a neurociência explica sobre o misterioso, inquieto e completamente falível cérebro humano. São Paulo: Planeta do Brasil, 2018.

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